quinta-feira, 7 de maio de 2009

Dois dias de intensivão de civilidade

Dois dias de intensivão de civilidade

Que a cidade de Manaus, pacata como Bruxelas e obediente como Copenhagen, aprenda a lição dos que, em tese, são os alunos. Por dois dias, dois míseros dias, os estudantes da capital foram os professores. Atrapalharam o trânsito, irritaram motoristas, incomodaram radialistas, constrangeram vereadores e furaram a cerca de jurubeba montada em torno do prefeito.
O resultado não poderia ser mais eficiente: em dois dias de protestos, os estudantes da capital mudaram as coisas, recuperaram seu direito, quebraram a inquebrável pasmaceira desta cidade de dois milhões de habitantes, acostumada apenas ao barulho do carnaval fora de época, das partidas de futebol do Rio de Janeiro e das igrejas evangélicas.

Uma cidade que se dê ao respeito precisa buzinar mais, xingar mais, reclamar mais. A vitória dos estudantes, que deve ter efeitos sobre a tarifa sobre o resto da população, é um sinal de que passividade só leva a um canto: o limbo democrático. É inaceitável que uma cidade deste tamanho assista candidamente que seus representantes bufolescos lhes arranquem direitos sem ao menos uma cara feia.

Aos que reclamam dos transtornos causados pelas manifestações, fica a sugestão: se mudem para Iranduba, uma cidade menor, com problemas menos complexos, com menos mototaxistas, menos flamenguistas e vascaínos, menos foliões, menos kombeiros, menos motoristas e menos estudantes. De quebra ainda vão ficar mais próximos da sede de seus veículos.

Que se mude a legislação, que se adequem as cotas de meias-passagens, que se diminua a quantidade delas, se ficar provado que são excessivas. E que os arautos da imprensa também convoquem o senhor Acir Gurgacz para provar, ao vivo e com números, que a tarifa está defasada e que a fraude é grande. Que aproveitem também para perguntar, ao vivo, como andam os processos a que respondem os donos das empresas, por fraude, sonegação de impostos e falsificação de documentos para financiamentos bancários.

Que Manaus tenha percebido que basta um pouco de barulho, para que as coisas saiam do lugar. O que os estudantes mostraram foi que somos capazes de nos defender da Turma da Picanha, do prefeito, da turma da catraca e da turma do microfone de aluguel.

Paz e ordem são coisas muito boas, em Bruxelas e Copenhagen, que já funcionam bem, respeitam seus motoristas, seus estudantes, seus habitantes e seus expectadores. Em Manaus, onde parece imperar a permissividade com a desordem, com o caos, com a falta de governo e com a cara-de-pau de seus políticos, um pouco de transtorno é o melhor dos sinais.

Não foram os estudantes os criadores da balbúrdia civil em que Manaus está mergulhada. O retorno das 120 meias passagens deverá assanhar empresários e vereadores a rever o preço da tarifa cheia, o que vai penalizar o resto dos usuários.

Azar o nosso, os pagadores de tarifa cheia. Melhor do que atacar o espírito cívico que Manaus parece estar descobrindo que tem, criticando estudantes, deveríamos fazer o mesmo, sempre que fôssemos sacaneados por nossos próprios representantes.

A aula é deles, os estudantes. São eles que estão de parabéns.

Por : omalfazejo

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